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domingo, 25 de setembro de 2016

O mundo visto de longe

Vista do espaço, a Terra é sempre espetacular! Fotos tiradas da Estação Espacial Internacional.


Estreito de Gibraltar, visto do norte.

Itália meridional, vista do norte.

Delta do Nilo, Mediterrâneo, Mar Vermelho, Golfo Pérsico e uma pontinha do Índico.

Duas tempestades elétricas avistadas sobre a Malásia.

sábado, 24 de setembro de 2016

Notórios saberes

Texto do amigo Tiago de Souza

Afinal, o tal "notório saber" funciona apenas para certos casos? Pra ser professor de música o notório saber basta. Pra ser professor de História não? O que vale é a perícia ou um diploma?

Quem vai dar o "diploma" de "notório saber"? A academia, o governo ou a comunidade?

Qualquer um pode ser professor? Qualquer um não pode ser professor?

Aluno sabe o que quer? Até onde vai a autonomia de um estudante que hoje quer pular o muro e amanhã está no mestrado?

Foi a Dilma ou foi o Temer?

Os índios vão poder dar aula de História do jeito que eles quiserem ou vão ter que cantar a narrativa do vencedor?

Quanto um "notório saber" deve valer no contracheque?

Um engenheiro de notório saber em Geografia vale mais que um doutor em Geografia?

Quem tem notório saber pode organizar o currículo com os "especialistas" do governo?

Porque só na educação tem notório saber? Que tal usar o mesmo argumento na engenharia, no Direito, na Psicologia, na MEDICINA?

Porquê a matemática é eterna e a filosofia não? Porquê quem gosta de jogar bola tem que estudar polinômios? Porquê não temos aula de retórica e Direito mas estudamos Guerra dos 100 anos?

Perguntas (muitas delas contraditórias...) de um cara que é formado, mas que ganha mais dinheiro com o "notório saber" do que com o diploma.

Perguntas de um cara que quase levou uma cadeirada de um aluno, que muitas vezes, diante de uma sala repleta de mal educados protegidos pelos pais, tentava explicar como foi o atentado que deu origem a Primeira Guerra, que já teve que ficar calado diante de um papo furado porque quem falava era um "notório saber" que tem anos de experiência no mercado e "você está chegando agora", que acha um absurdo que pessoas que não saibam nem ler o idioma básico da sua área posem de professores, de um cara que está de saco cheio de TODOS os políticos que tem "notório saber" em cambalachices e de um povo de "notório desaber" que fica empunhando argumentos pra defender esses cambalacheiros de direita, esquerda e qualquer direção e que atualmente acha muito estranho pessoas que na hora de falar de negros, gays e afins gritam sobre o tal "lugar de fala" e obrigam quem não é da tal "categoria" a calar a boca mas se acham com "notório poder" pra falar o que bem entende sobre uma realidade que não vivem.

Perguntas feitas por um notório "sem saber".

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

"Nunca antes na História desse país..."

Pelas minhas contas, já assistimos três versões do mesmo filme. O original se chamava "50 anos em 5"; o título do remake era "Milagre Econômico - Ninguém segura esse país". A última versão foi "Nunca antes na História desse país". Apesar de alguns detalhes e caracterizações ligeiramente diferentes, a trama continua basicamente a mesma, envolvendo conquistas efêmeras, orgias esportivas e urbanísticas, devastador endividamento público e formação ou ampliação de grandes fortunas privadas. Uma cena clássica presente em todas as versões é aquela em que fica todo mundo esperando o bolo crescer para dividir as fatias, mas nunca acontece de fato - nunca entendi muito bem; acho que é um lance meio becketiano. Recomendado para maiores de 18 anos. Ao sair do cinema, cuidado para não ser atropelado pela realidade.

sábado, 17 de setembro de 2016

Política carioca - Um triste espetáculo

Hoje vi um triste espetáculo numa praça de Marechal Hermes.

Era meio-dia. Um candidato a vereador panfletava no meio da praça.

Uma caixa de som tocava um jingle eleitoral de gosto duvidoso, soando melancolicamente na acústica desfavorável.

Meia dúzia de pessoas com um jeitão "baixa renda" agitava bandeirinhas. Suas expressões eram totalmente apáticas, com olhar vagamente ausente. Balançavam mecanicamente as bandeirolas, com o entusiasmo de alguém (mal) pago para estar ali.

Os poucos passantes não demonstravam qualquer interesse; com passos oblíquos, evitavam visivelmente o político com seus panfletos - e prováveis abraços.

O próprio candidato, suarento, traía total desânimo. A expressão contrastava vivamente com seu próprio retrato sorridente, estampado num banner ao lado de um prefeitável que talvez ele nem conheça pessoalmente.

Tristonho retrato da tediosa ágora carioca...

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Questionamentos sobre as denúncias contra Lula

 
Para além de torcidas, posicionamentos, slogans, powerpoints e convicções, creio que alguns questionamentos precisam ser traçados, sem parti pris, em torno dos recentes desdobramentos da Lava-Jato:

1) Todos os documentos arrolados pela investigação são autênticos? Nesse caso, que tipo de explicação plausível poderia ser estabelecida em torno desse conjunto documental?

2) Algum dos documentos é forjado? Qual ou quais? Quais seriam as implicações dessa(s) falsificações em relação ao conjunto da denúncia? Caso existam, forjados por quem e para quê?

3) É procedimento padrão entre as grandes empreiteiras manter imóveis "reservados" - nem vendidos, nem à venda?

4) Para quem estaria efetivamente "reservada" a tal cobertura?

5) Por que o imóvel inicialmente contratado pela família Lula foi posto novamente à venda? A família estava ciente desse procedimento? Por que motivos, aparentemente, as pendências relativas a esse negócio foram resolvidas apenas em novembro de 2015?

6) Por que o pagamento das parcelas foi interrompido em 2009? Quais foram as consequências dessa interrupção?

7) Em que data, exatamente, a família Lula iniciou sua ação judicial relativa ao reembolso dos valores despendidos na aquisição do imóvel? Por que demorou tanto tempo a resolver a situação? Que medidas extrajudiciais foram tomadas antes disso? Essas medidas extrajudiciais foram devidamente documentadas?

8) É procedimento comum que altos executivos de uma empreiteira e até seu presidente apresentem pessoalmente um imóvel a um potencial cliente?

9) Se o imóvel já estava "reservado" para alguém (quem?), por que ele foi apresentado duas vezes à família Lula?

10) De que maneira as duas visitas documentadas à cobertura durante a reforma se relacionam à prévia aquisição de imóvel no mesmo condomínio?

11) É comum que membros de alto escalão de uma empreiteira do porte da OAS se encarreguem pessoalmente da aquisição de cozinhas planejadas para clientes e resolvam tais assuntos por sms?

12) Quem era a "Dama" mencionada em sms, para a qual foi adquirida a cozinha?

13) É comum que uma empreiteira adquira mobília e eletrodomésticos para um imóvel reservado-mas-não-vendido?

14) É comum que empreiteiras como a OAS banquem para terceiros 21 meses de aluguel de guarda-móveis, por mais de um milhão de reais?

15) Que motivos legítimos a empresa OAS teria para prestar tamanha gentileza ao ex-presidente Lula? Nenhuma contrapartida era esperada?

16) Por que motivo o ex-presidente Lula aceitou essa gentileza? Tal aceitação por parte de uma liderança partidária de grande envergadura merece maiores esclarecimentos? Tal atitude poderia ser considerada imprudente?

17) Que tipo de mediação Paulo Okamoto, do Instituto Lula, exercia exatamente nessa relação?

P.S: Li quase todo o texto da denúncia contra Lula, e li integralmente a parte onde são apontadas as provas. Não tenho conhecimento jurídico suficiente para avaliar a consistência formal do texto, a tipificação penal ou a admissibilidade das provas perante um tribunal. Todavia, minha impressão inicial é que só existem duas hipóteses possíveis: A - Lula estava envolvido pessoalmente em esquemas de corrupção; B - A força-tarefa da Lava-Jato realizou falsificação de documentos em massa. Ambas hipóteses são tristes e preocupantes, em sentidos diferentes.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

O mundo mais perto do chão

Lindo texto do amigo Marcos Passini

Tem muita coisa que meu filho muito pequeno me ensina, com aquele olhar diferente - afinal, olha o mundo a meio metro de altura - de atenção às coisas pequenas, como um insetinho morto no chão, que pega com os dedinhos e me mostra ou põe na boca... São coisas pequenas que não vejo normalmente porque meus dedos são grandes demais para pegar, meus olhos estão alto demais ou (deve ser isso) estou com pressa demais.

Se você, como eu, já tem aquela idade em que a vida é estável, tem um emprego estável e uma casa sua, então os anos devem estar cada vez mais parecidos. Sabe tentar lembrar quando mesmo foi que isso ou aquilo aconteceu, em que ano foi, e descobrir que foi há muito mais tempo do que imaginava? Pois é, o tempo é isso, é uma coisa que passa por nós cada vez mais rápido, deixando menos de si mesmo.

Bom, se você é desses que não anda vendo o tempo passar, saiba que ter uma criança crescendo por perto muda tudo. Fotos de poucos meses atrás são tão diferentes, há mudanças em tudo, no rosto, na expressão (sempre, a cada dia, mais inteligente), no tamanho (como crescem rápido!).

Agora, se você é desses que tem cada vez mais coisas para fazer no tempo que é cada vez menos, e se ainda por cima está numa idade em que certas coisas tomam mais tempo do que antes, estão experimente levar seu pequeno de um aninho, que já saiba andar (se não tiver um, peça emprestado, pais adoram ganhar umas horinhas de folga) a dar uma volta pela rua. Mas só vale de mãos dadas, sem colo.

Primeiro, para ele poder te acompanhar, com os passinhos curtos, vai ser preciso andar muito devagar. Para quem tem cada vez menos tempo para fazer cada vez mais coisas, é um exercício e tanto. Não adianta ter pressa porque o tempo é o dele.

Depois, vai descobrir que ele, além de andar devagarzinho porque tem perninhas pequenas, ainda por cima não anda em linha reta. Vai atrás de um passarinho que viu aqui, de outra criança que viu ali, de uma vitrine colorida, de qualquer coisa porque, para ele, a vida é nova e tudo é novo e interessante e fascinante.

Vá com ele. Olhe tudo o que ele olhar, esforce-se para levar quinze minutos para caminhar um quarteirão, tente olhar o mundo de meio metro de altura. Se a ansiedade e a pressa e as muitas coisas e o pouco tempo deixarem, vale a pena.

domingo, 11 de setembro de 2016

Reis, povos e museus

Trecho (mal) traduzido de La guía del Prado, de autoria de Alberto Pancorbo

"A instituição que hoje conhecemos como Museu do Prado abriu suas portas ao público em 19 de novembro de 1819 com o nome de Museu Real de Pinturas, dado que se havia criado por iniciativa e sob o patrocínio do rei Fernando VII. Em 1793 se inaugurara o Museu do Louvre, o primeiro dos museus públicos e modelo de todos os criados posteriormente. Em que pese seu caráter real, o Prado partilhava com o Louvre o objetivo de trazer à luz tesouros artísticos até então conhecidos e desfrutados somente por um grupo muito reduzido de pessoas pertencentes à realeza, à aristocracia ou à Igreja. Esta ideia de tornar pública a arte tinha uma raiz ilustrada e um desenvolvimento revolucionário e, como muitas outras ideias, se difundiu por toda a Europa graças às invasões napoleônicas. Já em começos do século se manifestou na Espanha a necessidade de criar na corte um museu que reunisse as obras artísticas de importância que não eram adequadamente conservadas em outras partes do país. Mas a iniciativa mais séria de criar um museu de pinturas chegou depois da invasão napoleônica e pela mão de José Bonaparte, que em 1809 promulgou um decreto pelo qual se criava em Madri um museu de pintura, que denominar-se-ia Museu Josefino.

[...]

O fim da Guerra de Independência espanhola, a saída dos franceses e a chegada a Madri de Fernando VII em maio de 1814 como rei, longe de fazer naufragar a iniciativa de criar um museu de arte, a favoreceu. Nos meses imediatamente posteriores a sua chegada, o rei dispôs o necessário e finalmente o Prado nasceu sob o patrocínio do rei Fernando VII e pago de seu bolso. Deste modo, se não por suas intenções, o Museu do Prado se distinguia claramente do Louvre pela forma em que se originou. Este último foi criado em pleno auge revolucionário com as obras nacionalizadas da coroa e as confiscadas da Igreja e dos nobres. Pelo contrário, os fundos do Museu do Prado se constituíram com as obras artísticas da Coleção Real".

Chega de política!!! Vamos falar de outras coisas?!

Na última sexta-feira saí com alguns amigos e (quase) não falamos sobre política. Foi muito agradável, rico, divertido e... saudável! Nos últimos meses parece que a política invadiu nossos pensamentos e conversas de modo avassalador. Isso é realmente doentio, dá uma sensação de sufocamento - até porque não temos muito de bom para falar sobre o tema. Conversar sobre política ultimamente nos induz apenas sentimentos de indignação, revolta, raiva ou medo; às vezes rimos, mas é um riso amargo. Falar continuamente sobre política é também alienação. Uma alienação perversa, por sinal, que nos afasta de tudo que é realmente precioso. Chega de política! Vamos falar de família, bichos de estimação, artes, filmes, quadrinhos, games, livros, enfim... tudo aquilo que realmente importa!

sábado, 3 de setembro de 2016

O Brasil segundo Chapolim Colorado

"Oh, e agora? Quem poderá nos ajudar?"
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Chapolim Colorado é nosso herói: se aproveitam de nossa nobreza...!
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"Nossos movimentos são friamente calculados!" - Cúpula do PT, sobre o pacto de governabilidade.
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"Não contavam com minha astúcia!" - Eduardo Cunha, sobre o Impeachment.
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"Suspeitei desde o princípio!" - Cidadão que não se sentia confortável com o pacto de governabilidade.
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"Uende está o donde?" - Cidadão tentando compreender a vertente jurídica do Impeachment.
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Meu salário está ficando viciado em pílulas de polegarina!
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Palma, palma! Não priemos cânico!

Tolkien, PMDB e outras bobagens

O PMDB me lembra o Um Anel: forjado numa época de tirania, permanece como eterna ameaça aos povos livres, deformando o caráter daqueles que entram em contato com ele; precisa ser jogado na Montanha da Perdição!
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Me parece que Lula vem se tornando um curioso arremedo de Brizola. O original era muito mais interessante, diga-se de passagem.
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Há algumas décadas Brizola alertava: o PT é a UDN de macacão. Estava mais certo do que poderia imaginar - os udenistas também achavam que tinham tudo sob controle.
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Schadenfreude: a única alegria que resta ao brasileiro.
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Sinais e sintomas de Síndrome de Estocolmo: apoiar o Temer; gritar "Dilma-guerreira-da-pátria-brasileira"; comemorar o Impeachment; votar no Pedro Paulo; votar na Jandira por indicação do Lula.
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A proverbial alegria do povo brasileiro só pode ser masoquismo, sadismo ou sadomasoquismo. Teria Gilberto Freyre razão?!
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Todo homem cordial tem título de eleitor.
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Seria o Brasil uma pornochanchada dirigida pelo Glauber Rocha?
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Para os petistas, o Brasil havia se tornado uma HQ do Maurício de Souza, enquanto a realidade estava mais para Alan Moore. O Dr. Wertham explica. Santa inocência, Batman!
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P: Por que o mundo anda tão estranho?
R: 40 anos de neoliberalismo.



A invasão da política

Brilhante texto do historiador, musicólogo, baterista e amigo Tiago de Souza, sobre a invasão da política em todos os recantos de nosso cotidiano.

Ontem fui a um show. Só queria curtir um som de qualidade com minha esposa e amigos. O show começa. Impecável. Tudo lindo. No meio do show um dos integrantes do grupo começa a apresentar a banda. Ele está falando o nome do baixista. Mas algo acontece.
 

Um solitário grita.

FORA TEMER!


Eu ouvi. Menos de um segundo depois uma multidão atende o chamado e diz, mais alto.

FORAAA TEMEEEER!

Minha primeira reação foi montar uma cara de espanto e dizer: "Sério mesmo?! Aqui?" Mas achei valido, afinal, a situação está feia no Brasil. O negócio é bater de frente mesmo. Enfim. Segue o jogo. O show era com o público sentado. Infelizmente aqui no RJ o público não tem lá muito controle e educação nesse tipo de ambiente. Um grupo a minha esquerda se levanta e grita também. Um copo de cerveja tomba na mesa e a cachaça se esparrama em direção a uma senhora de uns setenta anos que estava sentada. Sem nem esboçar ressentimento ela arrasta a cadeira pro lado. Sem nem esboçar um pedido de desculpas o grupo repete o mantra do "Fora Temer". A banda ignora o público e continua a apresentar os integrantes. Os gritos continuam, porém, mais esparsos, raquíticos, esquálidos.

O guitarrista "puxa" um riff.

Temer é prontamente esquecido mas a falta de educação sobrevoa os corações com firmeza. Muita gente se levanta e, ignorando quem estava sentado, começa a rebolar. Como a carne de gente chata não é transparente, as vaias, garrafas e palavrões são inevitáveis. Não consigo me concentrar no riff.

Putz... O riff já passou.

Agora a vocalista está cantando.

Nao satisfeitos, as pessoas correm, bamboleiam para a "fila do gargarejo" carregando copos e latas na mesma mão. Outras tiram selfies. Outras pulam de uma fileira pra outra. Vejo uma outra senhorinha. Na frente dela estão quatro imbecis que, agitando os bracos e ensaiando uma coreografia tosca se entregam ao desbunde da arte. Óbvio que a senhorinha não consegue ver nada.

O guitarrista está solando!

Pego meu celular pra filmar: aquele solo é uma obra prima. Quero gravar materialmente esse momento. Começo a filmar discretamente. Na frente do guitarrista, na hora do solo, para meu espanto, alguém passa com uma FAIXA.

Nela a frase "GOLPISTA não passará".

A platéia urra. Será pelo solo ou pela faixa?

O show termina com pelo menos quatro momentos de "manifestação política" e eu, com a sensação de ter perdido muito por causa dessas manifestações.

Na hora de ir embora a mesma praxis é feita. Gritos, punhos no ar, "foras" e "abaixos" são ouvidos. Mas percebo tropeções, colunas tortas, passos trôpegos, gritos desconexos, berros meio engofados e sorrisos. Muitos. Mas não apenas sorrisos com aquela loucura que apenas quem quer mudar o mundo tem. Eram sorrisos etílicos, tortos, pincelados com alguns olhares perdidos. Não sei dizer se quem estava gritando sabia muito bem o que realmente estava dizendo ou querendo. Parecia o mesmo tipo de postura de uma turma que acabou de ser liberada para as férias de meio de ano ou para o recreio.
Cada um é livre pra gritar, berrar, questionar e buscar caminhos para um mundo melhor, a começar da política nacional. Eu também estou triste pelo país e quero fazer parte da mudança. Mas eu vi tanta baixeza, tanta gritaria a toa e sem o menor propósito que eu fiquei pensando em como eu poderia manifestar minha indignação pela atual situação do país sem ser mal educado e simplório. Definitivamente não é fazendo o tipo de coisa que eu vi ontem. Não naquele lugar. Naquele momento. Vamos lutar mas vamos usar as ferramentas certas e mexer nas peças que realmente devem ser mexidas.

Ontem a arte saiu perdendo.

E as senhorinhas mais ainda.

Deixo aqui o meu fora.

Fora Temer. Fora Dilma. Fora corruptos. Fora tudo de ruim que impede nosso povo de viver em paz. Mas também fora com a falta de educação e com os revolucionários de "copo e latinha na mão saindo do recreio".

 O Brasil precisa mesmo de um "acabou chorare" pra um monte de coisas...

PT - partido sempre partido

Reflexões do amigo e historiador Fred Oliveira



O PT continua sendo um grande partido, sempre partido... Penso que possa tentar unir as esquerdas em torno de sua quimera mas não me parece que esteja disposto a seguir em posição secundária alguma outra legenda. O poder cria um hábito que experimentado não se esquece. Não sei se a parte vassala das esquerdas que em alguns momentos costuma se unir em torno do PT, seja por ideologia (qual?), sentimento de solidariedade, peleguismo, coleguismo, oportunismo "de classe" ou onda, estará disposta a segui-lo até o fim dos tempos. Dos filhos expulsos, em expurgos passados, o PSOL parece ainda não ter rompido completamente o cordão umbilical com o "ventre materno" e o discurso desafina em algumas falas. Torço para que o partido não se torne um novo PT. As esquerdas "a la" PT tem muito apoio em alguns segmentos de formadores de opinião mas, paradoxalmente, não tem a capilaridade que o alarido online, as vezes, pretende fazer parecer. Um dos problemas de parte da esquerda é ver na política inimigos, em vez de ver nas vozes discordantes adversários. Apesar de todo o blá blá blá pela democracia, tal postura na verdade fode a democracia! O PMDB e o PSDB não são opções. É preciso que a sociedade se dê conta de tal esgotamento e se mova para que haja a emergência de novas vias, novas opções, novos caminhos para a representação política. Sem ilusões e sem panfletos bobos, que só tem eco no próprio grupo. Um país com 200 milhões de habitantes não pode mergulhar em delírios. Muitas lições foram suscitadas mas receio que nenhuma tenha sido de fato aprendida. A crise se arrastará até 2018. Acho que a direita hoje está menos inibida e não sei se isso é bom. Possivelmente nos próximos anos a esquerda não será mais a única opção do espectro ideológico a ter militâncias atuantes. Na verdade, acho que o clima de conflito se acentuará entre esses grupos. Dilma, como pessoa, é muito melhor que o PT atual. Ou será esquecida como Erundina foi ou se tornará a rainha da Inglaterra do partido ou retornará ao limbo burocrático de onde saiu e no qual ninguém, fora dos círculos do PDT e do PT, a conhecia. Dilma e Temer não teriam votos sem os padrinhos e oportunidades que tiveram. Todo esse processo fez muito mal ao Brasil. Não ensinou nada porque ninguém está disposto a aprender nada com toda essa crise. A maioria só quer ver seu lado prevalecer. Os demagogos continuam demagogos, os pelegos continuam pelegos e alguns grupos militantes beiram o dogmatismo religioso na sua defesa intransigente de seus mitos e divindades. Eternizam o presente como se ele não fosse passar. Mas o presente passa e depois quase ninguém se lembra de tanta paixão passada com a mesma ênfase. Como em Shakespeare, o Brasil é aquela escada na qual se ouve um grande barulho mas o tempo passa e nada de fato acontece. Penso que a grande ilusão disso tudo é achar que um dos lados merece aplauso...

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

"Porre ideológico"

Trecho de Os bestializados, de José Murilo de Carvalho:

"A República não produziu correntes ideológicas próprias ou novas visões estéticas. Mas, por um momento, houve um abrir de janelas, por onde circularam mais livremente ideias que antes se continham no recatado mundo imperial. Criou-se um ambiente que Evaristo de Moraes chamou com felicidade de porre ideológico, e que poderíamos também chamar, sob a inspiração de Sérgio Porto, de maxixe do republicano doido. Nesse porre, ou nesse maxixe, misturavam-se, sem muita preocupação lógica ou substantiva, várias vertentes do pensamento europeu".

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Leituras recomendadas sobre o Brasil do Impeachment

Muito se tem escrito sobre o processo de Impeachment de Dilma Roussef, mas pouca coisa de real interesse. Destaco alguns textos que me pareceram interessantes, curiosos ou esclarecedores.


1) Moral é artigo em falta tanto em algozes quanto em apoiadores de Dilma - o jornalista Raphael Tsavkko Garcia traça comentários interessantes sobre o conflito, numa síntese que não poupa nenhum dos lados, para além das polarizações e maniqueísmos do momento.

2) A merda é o ouro dos espertos - a sempre excelente Eliane Brum contrapõe as imagens conflitantes do Brasil "Olímpico", entre a euforia de 2009 e as frustrações de 2016.

3) 12 argumentos pró e contra o impeachment - rica em links para aprofundamento, a didática reportagem da Agência Pública sintetiza os principais argumentos alinhavados de cada lado, ajudando a entender (um pouco) melhor o labirinto judicial desse processo.

4) Acabou o flá-flu - Renato Janine Ribeiro oferece algumas reflexões e perspectivas oportunas contextualizando o processo de Impeachment em relação aos últimos 20 anos de política brasileira, destacando as complexas interações entre PT, PSDB e PMDB durante o período.

5) Impeachment, golpe e democracia - lúcida análise proposta pelo historiador Daniel Aarão Reis.

6) O mergulho no mundo virtual do pós-PT - apesar da linguagem empolada e de certo esquematismo pós-modernoso, o artigo tece algumas considerações interessantes sobre o modelo de esquerda sustentado pelo PT no poder, e sua (in)viabilidade. Do mesmo autor, E agora, José? e A estratégia zumbi e o fim de um projeto também apresentam algum interesse.

7) Não alimente as cobras - a historiadora Rejane Hoeveler discute a crise atual à luz da trajetória do PT (em inglês).