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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Escalas de observação: tempo, espaço, sujeitos e objetos

Dedicado a meu orientador, Rodrigo Bentes Monteiro

Levei cerca de 4 anos produzindo minha tese de doutorado. Meu objeto de pesquisa (a presença francesa na América e no Atlântico) teve por corte cronológico cerca de um século, entre os reinados de Francisco I e Luís XIII. Grosseiramente falando, temos uma relação temporal de 1:25, ou 1 ano de pesquisa para 25 anos de período pesquisado, permitindo que 100 anos de experiências "coubessem" em 4 anos de doutorado e 400 páginas de tese. Tal operação intelectual implica um drástico processo de "compressão de informação". Foi necessário selecionar, cortar e recortar fontes, dados, personagens, temas, problemáticas, conexões... A contragosto, precisei deixar muita coisa de lado - com as devidas "tesouradas" de meu orientador e da banca de qualificação. É preciso muito esforço e alguma dor para "comprimir" todo um mundo de experiências - um século, dois continentes, um oceano - em poucas centenas de páginas.

Mas não é problema apenas de historiadores; existem outros ofícios, com outras escalas. Pensemos no microbiologista: em suas pesquisas, ele lida com organismos infinitamente menores que ele mesmo, seres de vida dramaticamente efêmera. De certo modo, ele opera uma "descompressão de informação", tentando tornar experiências microscópicas no tempo e no espaço inteligíveis para seres macroscópicos - nós. Por sinal, as brevíssimas dimensões temporais com que lida tornam tanto possível quanto necessário repetir experimentos ad nauseam, de modo a montar os quebra-cabeças do infinitamente pequeno. Tais questões também servem para inúmeros cientistas, como os físicos dedicados às dinâmicas quânticas ou à física de partículas, entre tantos outros.

Creio que o extremo oposto esteja nos ramos da astronomia, da astrofísica, da cosmologia e afins. Saltamos do ínfimo ao infinito, às temporalidades e distâncias que em tudo extrapolam as dimensões humanas e terrestres. Considerando que a astronomia metodicamente científica conta cerca de 400 anos, como dar conta de fenômenos estimados na ordem dos bilhões de anos? Quantas existências de astrônomos seriam necessárias para acompanhar a vida e a morte de uma única estrela? Aqui é a observação simultânea de fenômenos similares - às vezes escassos - que busca resolver os enigmas do infindável. É o supremo esforço de "compressão de informação", tentando reduzir os mistérios do cosmo à nossa limitada ciência...

Concluindo, creio que toda operação científica precise passar por operações semelhantes, no sentido de mediar as diferentes escalas e dimensões espaço-temporais que separam sujeito e objeto, de algum modo tentando estabelecer relações, equivalências e correspondências entre as diversas experiências e perspectivas possíveis acerca da realidade. Vale lembrar, segundo as teorias da computação, que toda operação de "compressão" e "descompressão" implicam na perda ou simplificação de informações, levando a reduções de nitidez e precisão.

O conhecimento é uma eterna tentativa de abraço entre sujeito e objeto, uma superação de distâncias nunca realizada por completo, mas sempre aprofundada.

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