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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Jaulas e janelas

Imagine a paisagem mais fantástica possível: um vulcão em erupção; uma aurora boreal sobre um plácido lago; uma revoada de pássaros sobre o pantanal; o entardecer em Veneza; cerejeiras em flor num palácio japonês; as cataratas do Iguaçu ou de Niágara; uma noite estrelada sobre o Atacama; manadas de animais selvagens bebendo água na savana; Macchu Picchu; a Cidade Proibida; qualquer outra coisa que lhe agradar.

Agora imagine uma sala com uma ampla janela panorâmica de onde se descortina essa paisagem.

Agora imagine uma pessoa nessa sala.

Agora imagine que essa pessoa não liga a mínima para a paisagem, mas observa embevecida a janela propriamente dita, atenta a todos os seus detalhes: o vidro e sua espessura, o caixilho, a largura e a altura da janela, etc. É uma janela perfeitamente ordinária, como qualquer outra - no entanto, o observador não tem olhos para a outra coisa. Comenta entusiasticamente a janela com aqueles ao seu redor. Redige anotações sobre a janela; desenha esboços da janela; fotografa os detalhes da janela; elabora gráficos e tabelas sobre a janela. Para o observador, a janela se tornou uma jaula.

Agora imagine que uma terceira pessoa consulta essas anotações, desenhos, fotografias, gráficos e tabelas. Ela saberá tudo sobre a janela, mas quase nada sobre a paisagem deslumbrante - apenas um ou outro elemento marginal, relacionado à janela.

Às vezes, lendo alguns trabalhos acadêmicos, me sinto como essa terceira pessoa.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Fazer a diferença

Trecho do romance Extremely loud & incredibly close ("Tão forte, tão perto") de Jonathan Safran Foer

"Eu li o primeiro capítulo de Uma breve História do Tempo quando Papai ainda estava vivo, e me senti incrivelmente mal sobre quão relativamente insignificante a vida é, e como, comparado ao universo e comparado ao tempo, a minha existência não importava realmente nada. Quando Papai me aconchegava à noite e conversávamos sobre o livro, eu perguntei se ele podia pensar numa solução para aquele problema. 'Qual problema?' 'O problema do quanto somos relativamente insignificantes.' Ele disse, 'Bem, o que aconteceria se uma avião largasse você no meio do deserto do Saara e você pegasse um único grão de areia com uma pinça e o movesse um milímetro?' Eu disse, 'Eu provavelmente morreria de desidratação.' Ele disse, 'Eu quero dizer exatamente naquele momento, quando você movesse aquele único grão de areia. O que significaria?' Eu disse, 'Eu não sei; o quê?' Ele disse, 'Pense sobre isso.' Eu pensei sobre isso. 'Eu acho que eu teria movido um grão de areia.' 'O que significa que você teria mudado o Saara.' 'E daí?' 'E daí? Daí que o Saara é um vasto deserto. E ele existiu por milhões de anos. E você o mudou!' 'É verdade!' Eu  disse, sentando-me. 'Eu mudei o Saara!' 'O que significa...?', ele disse. 'O quê? Me diga.' 'Bem, não estou falando sobre pintar a Mona Lisa ou curar o câncer. Estou falando apenas sobre mover um único grão de areia um milímetro.' 'Sim?' 'Se você não tivesse feito isso, a história humana teria sido de um modo...' 'A-hã?' 'Mas você fez isso, então...?' Eu fiquei em pé na cama, apontei meus dedos para as estrelas falsas, e gritei: 'Eu mudei o curso da história humana!' 'Isso mesmo.' 'Eu mudei o universo!' 'Você mudou.' 'Eu sou Deus!' 'Você é um ateu.' 'Eu não existe!' Eu caí de volta na cama, em seus braços, e nós gargalhamos juntos."