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sábado, 24 de agosto de 2013

8% e só?

Texto da Prof.ª Isabelle Vieira

Sobre a Greve dos Profissionais da Educação da Prefeitura do Rio de Janeiro

O Prefeito finalmente negociou: ofereceu 8% e uma promessa de plano de cargos e salários daqui a 30 dias! Isso é um grande avanço! A categoria comemorou e está cogitando terminar a greve na segunda-feira. 


Eu não gosto da greve, preferia estar trabalhando em sala: cansa muito mais participar dos atos.

Mas 8% e só?
Minha greve não é por salário! É por condições de trabalho! Mas todas as questões pedagógicas foram deixadas de lado, talvez porque, para o SEPE e o Prefeito a questão salarial seja mais simples de resolver do que uma série de problemas pedagógicos criados pelas políticas em vigor. Talvez, para a Cláudia Costin - que não é pedagoga, mas administradora - seja mais fácil falar em dinheiro do que em educação. Pra nós, que estamos em sala de aula, a questão salarial é a menos grave.
É claro que seria ideal que ganhássemos um bom salário para estarmos menos tempo em sala e em apenas uma escola - que tivesse estrutura física, tecnologia, valorização moral, funcionários suficientes, com funções claras e tempo de descanso e de aperfeiçoamento suficientes. Para isso teria que ser revisto todo o sistema educacional que permite que o professor se divida em várias escolas para conseguir um salário razoável, e é claro que para isso teríamos que rever as leis e o salário base, a quantidade de investimentos, concursos, e todo o resto. Além disso, seria demandado um enorme esforço político, que colocaria a educação nos primeiros lugares em prioridade. E isso seria perfeito!
Nós, professores, sabemos que ainda não temos maturidade política para pressionar tanto. Sabemos que os nossos governantes ainda não estão tão interessados em fazer tanto. Sabemos que esse é um caminho muito longo e árduo. Sabemos que isso será fruto de uma mobilização permanente e que não podemos ficar em greve até que a educação seja, de fato, perfeita.
Mas a greve está aí! Estamos parados para exigir que, mesmo que com a consciência da imperfeição, acreditamos que, mesmo com a estrutura que temos, a educação pode melhorar e muito, com medidas simples e alcançáveis.

- Tentamos negociar com o prefeito, um aumento razoável, que talvez fizesse alguns professores pensarem em abandonar outras escolas (quem já é de 40hs, por exemplo, porque não?).

- Tentamos negociar com o prefeito que houvesse um plano de cargos, com progressão por tempo de serviço e capacitação, para que os professores experientes e capacitados, com especialização, mestrado e doutorado, não abandonassem a carreira e, pelo contrário, pudessem se dedicar a fazer da escola o lugar de ensino e pesquisa que tanto sonhamos.

- Tentamos negociar maiores investimentos rápidos em infraestrutura básica, como a climatização, por exemplo, porque em algumas escolas o calor é insuportável, a instalação elétrica está precária, os espaços para educação física são inapropriados, faltam carteiras ou as mesmas que já temos estão danificadas. Bebedouros e banheiros não têm manutenção, porque a verba enviada é insuficiente e burocratizada.

- Tentamos negociar a desburocratização e a maior autonomia das escolas, para que setores como direção e coordenação pedagógica tenham mais liberdade e disponibilidade para agir no que é mais importante para a escola: a educação.

- Tentamos negociar o cumprimento da lei que diz que o professor deve ter 1/3 da carga horária voltada para planejamento e estudos, para que tenhamos mais tempo para preparar nossas aulas e nos aperfeiçoarmos.

- Tentamos negociar para que o Prefeito se esforce em construir novas escolas ou que torne adequadas as já existentes, para que as salas fiquem menos lotadas, porque entendemos que um professor para 40 alunos é uma proporção inviável e absurda.

- Tentamos negociar que projetos como o “Autonomia Carioca” sejam repensados, pois colocam um professor formado em uma disciplina para lecionar todas e muitas vezes sem nenhuma capacitação ou instrução por parte da Secretaria de Educação.

- Tentamos negociar que a verba desviada para a manutenção desses projetos junto a fundações, instituições e empresas como a Fundação Roberto Marinho, o Instituto Ayrton Sena, a Cultura Inglesa e muitas outras, fossem repassadas diretamente para as escolas, que, com muito menos dinheiro (já que esses convênios são milionários e ineficazes), poderiam fazer muito mais.
- Tentamos negociar que o material enviado pela prefeitura como as apostilas e provas fossem de melhor qualidade, melhor elaborados, ou mesmo que não fossem enviados, uma vez que os professores que estudaram (e estudam) para lecionar (e portanto tem domínio de técnicas de didática e avaliação), podem elaborar seu próprio material com autonomia e de maneira adequada à realidade de cada turma.

- Tentamos negociar o fim do sistema de meritocracia, que pode ser muito bem visto em empresas, mas que é inadequado à realidade escolar por incentivar a competitividade enquanto é consenso que valores como a colaboração sejam mais proveitosos no contexto escolar.

- Tentamos negociar que a avaliação externa não exista ou seja repensada e melhor elaborada, de forma que possa estar de acordo com a realidade escolar e não seja simplesmente para produzir números enganosos sobre a qualidade da educação.

- Tentamos negociar que o sistema avaliativo e de promoção seja repensado, pois o atual é, no fundo, muito semelhante à aprovação automática e é isso que acontece na prática, pois um aluno pode ser promovido mesmo sem ter domínio de conteúdos essenciais como os de Língua Portuguesa e Matemática.

- Tentamos negociar que a Secretária pare de pressionar a direção, a coordenação e os professores para atingir metas de aprovação que não condizem com a realidade das escolas e que tornam o processo de aprendizagem falho.

 Mas o prefeito nos ofereceu 8% de aumento e comemoramos.
Talvez porque no fundo já estejamos emocionalmente cansados por conta das ameaças de corte de ponto, da demissão dos profissionais em estágio probatório, das contas para pagar sem que tenhamos a certeza de que o salário virá. Talvez estejamos desacreditados de que temos força suficientes para levar essa greve adiante. Talvez porque estejamos acostumados a não conseguir dos governantes tudo aquilo que acreditamos ser necessário.
Mas 8% de reajuste e uma mera promessa de plano de cargos me faz pensar que tudo era mesmo apenas por dinheiro... Aceitar a proposta do Prefeito é vender todas as nossas reivindicações. Aceitar a proposta do Prefeito significa atestar que os professores só estão mesmo preocupados com o próprio bem-estar e não com nossos alunos e com a educação.

Eu não aceito os 8%.
Eu troco meus R$ 115,11 por TODAS as outras reivindicações.

E enquanto o Prefeito Eduardo Paes, a Secretária de Educação Cláudia Costin e o Sindicato dos Profissionais da Educação (SEPE) não entenderem isso, pretendo sim, continuar fora da sala de aula.

Isabelle I. Vieira,
Professora de História

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